Quando se fala em gerir uma carreira musical como um negócio, entender alguns conceitos contábeis básicos pode ser a diferença entre crescer de forma sustentável ou ficar no vermelho. Mesmo que você não seja expert em planilhas ou não curta matemática, conhecer os termos certos ajuda a tomar decisões mais inteligentes, evitar ciladas e garantir que sua arte continue existindo. Vamos direto ao ponto com exemplos práticos do dia a dia de quem vive da música.
1. P&L (Demonstrativo de Lucros e Perdas)
O P&L, ou Demonstrativo de Resultados, é um retrato do seu desempenho financeiro em um período específico (como um trimestre, um ano ou uma temporada de shows). Ele lista todas as suas receitas (o que entrou) e despesas (o que saiu), e mostra se você teve lucro ou prejuízo.
Por que isso importa? Porque sem isso, você está basicamente adivinhando se sua carreira está dando certo financeiramente. Com o P&L, você consegue saber se aquele lançamento, turnê ou estratégia de marketing realmente gerou retorno ou só gastos.
Exemplo: Se você faturou R$75 mil com streaming, shows e merch, mas gastou R$90 mil com produção, viagens e divulgação, seu P&L mostra um prejuízo de R$15 mil, mesmo com grana entrando.
📌 Dica: Reveja esse demonstrativo a cada trimestre para ajustar rotas antes que o buraco fique grande demais.
2. Plano de Contas (Chart of Accounts)
Pense no plano de contas como a tracklist das suas finanas. É uma lista organizada com todas as categorias de entradas e saídas do seu caixa. É como abrir sua DAW e ver todos os canais nomeados certinho: vocal, synth, beat…
Categorias comuns:
- Receitas: royalties, cachê de shows, venda de merch, sincronizações
- Despesas: estúdios, mixagem, marketing, viagens, colaborações
Por que usar? Porque se sua planilha for um caos, você vai se perder. Na hora de declarar impostos ou pedir um financiamento, ter tudo separado facilita (e muito).
🧠 Dica: Não precisa ser sofisticado. Uma planilha simples com categorias claras já é um começo.
3. Recupéraveis vs. Não-Recupéraveis
Sabe aquele dinheiro que a gravadora ou editora investe em você? Nem todo ele vem como presente. Entender a diferença entre valores recupéraveis e não-recupéraveis é fundamental pra evitar surpresas (e dívidas) no futuro.
- Recupéravel: você só vai começar a receber royalties depois que esse valor for pago de volta.
- Não-recupéravel: a empresa bancou, mas você não precisa devolver.
Exemplo: R$25 mil para gravar seu álbum? Recupável. R$1 mil em fotos de divulgação? Se for não-recupável, não sai do seu bolso.
✅ Dica: Pergunte (e documente!) o que está ou não na conta. Isso protege seus ganhos futuros.
4. Adiantamentos (Advances)
O adiantamento parece um sonho: grana na conta antes mesmo de lançar sua música. Mas é importante entender que esse valor é um empréstimo, não um prêmio.
Exemplo: Se você recebe R$10 mil adiantados e seu disco gera R$8 mil em royalties, você não vai ver nada até cobrir o déficit de R$2 mil. E só depois disso começa a receber de fato.
O adiantamento pode sim ajudar a bancar um projeto com mais qualidade ou aliviar suas contas, mas também pode te deixar sem receitas futuras se não for bem planejado.
💰 Dica: Pegue só o que precisa. Quanto menor o adiantamento, menor a pressão para recuperar.
5. Fluxo de Caixa vs. Lucratividade
Você pode estar lucrando… e ainda assim estar sem grana. Parece estranho, mas é real. Lucro é o saldo entre receitas e despesas. Fluxo de caixa é o dinheiro que você tem em mãos agora.
Exemplo: Um contrato de sincronização que vai te pagar R$30 mil em 3 meses parece ótimo. Mas se você tem aluguel, estúdios e viagens para pagar agora, pode ficar no aperto mesmo sendo “lucrativo”.
Esse descompasso é um dos motivos mais comuns de falência em pequenos negócios de música.
📌 Dica: Planeje seus lançamentos, crie reservas e não conte com dinheiro que ainda não entrou.
Pra fechar
Não precisa ter formação em contabilidade para tomar boas decisões. Com informação básica e organização, você consegue fugir de erros comuns, identificar oportunidades e fazer sua carreira crescer de forma consistente.
Quanto mais você trata sua música como um negócio, mais liberdade você conquista para continuar criando. E lembre-se: ninguém vai cuidar melhor do seu dinheiro do que você.
Boa sorte e boas contas!